(05 motivos para ler) - Livro Estação Carandiru de Draúzio Varella.
Boa noite
As férias chegaram e junto com elas, as Atividades Complementares.
Por conseguinte, o Endireitando fará nessas férias de Julho, os 05 motivos para que você leia determinada obra.
O livro escolhido da publicação de hoje é a obra de Draúzio Varella, Estação Carandiru.
Abaixo, os motivos do porquê você deve ler este livro. Vejamos:
Motivo #1 - Leitura viciante.
Quem lê Estação Carandiru não quer mais parar. Draúzio Varella narra de formas variadas os acontecidos na Casa de Detenção. Durante todo o livro, ele inclui falas dos detentos, sem qualquer preocupação com a correção do texto, pois logicamente, percebe-se que seu intuito é inserir o leitor na pele de um presidiário.
Por sua vez, o livro traz um tema controverso para uns e unanimidade para outros, sendo motivo de revolta ou de compaixão humanitária respectivamente. O autor, sendo um renomado médico oncologista com participações na mídia e afins, conta sua participação no Carandiru pela sua profissão e também as dificuldades que isso traz.
Além disso, o livro traz uma série de curiosidades sobre o mundo do crime e seu Código Penal, com regras por vezes jocosas, mas também rigorosas, cujo um simples olhar diretamente no olho de algum ladrão, torna-se um motivo para um homicídio.
Motivo #2 - Realidade Prisional.
A lei que regula os direitos e deveres dos presos é a Lei 7.210 de 1984 ou como ela é chamada, a Lei de Execução Penal (LEP).
O livro retrata uma realidade pífia. Dentro do Carandiru, os carcereiros não usavam nenhuma arma de fogo no presídio. Sua atuação estava restritiva com um cassetete e que por vezes, os ladrões os rendiam em alguma emboscada criados por eles mesmos, e exigiam algo em troca, como por exemplo, a transferência de unidade prisional ou a reivindicação de melhorias dentro do presídio.
Varella conta que os ladrões convivem com 20 presos ou mais em uma cela de 5m². Os novatos dormem ao lado da privada, chamado de "bico", muito diferente do que estamos acostumados em nossas casas. O chuveiro deles é um cano que quando ligada, solta um fio fino de água, quente ou frio, para o banho dos detentos.
Para dormir, dependendo da quantidade de presos por cela, alguns ficam em pé enquanto outros dormem, e assim se revezam em seu canto, sem encostar ou incomodar o outro, porque como disse um dos presos no livro, "Sono de malandro é sagrado, doutor".
Motivo #3 - Curiosidades.
Confesso que ao ler o livro, me deparei com certas curiosidades no meio prisional. Além do que foi mencionado no último parágrafo do Motivo #2, os presos tem regras de condutas jocosas mas também rigorosas.
Um novato na prisão, caso não conheça alguém da cela com que teve amizade quando tinha sua liberdade, ou não tenha dinheiro para arcar com a taxa de moradia da cela, imposta para ter o direito de morar ali, não recebe acolhimento dos detentos. Muitos aceitam ser laranjas (termo usado para quem faz algo para o ladrão, da qual ele não gostaria/queria fazer) em troca de moradia.
A moeda principal da prisão não é o dinheiro e sim o maço de cigarro. Pasmem! Na prisão existe o chamado lei da oferta e procura. Caso tenha muitos itens de determinada coisa lá dentro, o preço daquilo será baixo. Em contramão, quanto menor a quantidade, mais caro aquele item ficará.
Como é de se imaginar, o que mais procuram são drogas como crack e cocaína, injetáveis com a mesma agulha ou uma engenhoca que eles constroem semelhante a uma, além de facas, cigarros, remédios e outros.
Não levando em consideração os crimes cometidos, a tatuagem frequente nos detentos são imagens da Nossa Senhora da Aparecida, ícone da Igreja Católica em reverência a Maria, mãe de Jesus Nazareno. Uma faca empunhada numa caveira também é uma tatuagem frequente entre eles, referindo-se serem matadores de policiais.
Estupradores, justiceiros e os ameaçados de morte são separados dos demais detentos, tendo em vista a chacina que isso resultaria se estivessem juntos. Ladrão abomina estuprador, isso é unanimidade.
Enfim, o livro está repleto de coisas novas e teria que reescreve-lo para contar as inúmeras informações constritas.
Motivo #4 - A adversidade da proliferação de doenças dentro dos presídios.
Draúzio Varella retrata a adversidade da proliferação de doenças dentro dos presídios mostrando o quanto os detentos sofrem com isso.
Sarna, infecções, HIV, tuberculose, leptospirose e principalmente o vírus da AIDS, são comuns por lá.
Este último, presume-se que 70-80% dos detentos eram portadores. Isso acontecia pelo uso de agulhas conjuntas para o uso de drogas, sexo com um portador e a exposição contínua aos fatores que levam a contaminação.
Na Casa de Detenção, se não morria por outro preso, morria pela doença avançada.
Os travestis dentro do presídios eram os grandes portadores das doenças. Trocavam sexo por comida ou até mesmo por um maço de cigarro, moeda principal da cadeia. Assim, facilmente se contaminavam com diversas doenças.
Motivo #5 - Ressocialização do preso.
Sinceramente, o livro faz-nos acreditar que não existe a ressocialização do preso. Não que seja tendencioso, mas que ao analisarmos o que ocorre lá dentro e a essência da servidão de um presídio a um infrator, verificamos que estamos longe de um sistema prisional que prioriza a inserção de um ex-preso fora do mundo criminoso.
Pelo contrário, grande parte dos detentos, ao atingirem sua liberdade, voltam a cometer os mesmos crimes ou até piores. Durante o cumprimento da pena, o detento por vezes, sendo um motivo fútil ou torpe, comete homicídio contra outro detento a fim de "acertar as contas". Veja um exemplo do livro: X esbarra em Y. Y não gosta disso. Assim, Y mata X.
Independe se X é forte, magro, grande ou pequeno, dentro da cadeia isso não significa nada.
Para estuprador, a crueldade atinge um pico de ódio enorme. Basicamente, o estupram, dão choques elétricos intensificado com o corpo molhado da vítima, o fazem ingerir excrementos a cada 30 minutos durante o dia, queimam as suas línguas, cometem lesões corporais das mais variadas e por fim, conforme relatado no livro, após todos esses atos, o matam com cerca de 70 facadas, dependendo de quantos presidiários estiverem na fila. O prazer está em dar a facada e humilhar o estuprador, mesmo que ele já esteja sem vida.
Assim, difícil se faz acreditar na ressocialização do preso devido a tudo que passam e vivenciam dentro das Casas de Detenções. Há exceções, é claro. Mas mesmo fazendo parte destas exceções, esbarram no preconceito da sociedade, seja no profissional ou no pessoal quando obtêm sua liberdade.
Assim, indico a leitura deste livro!
Drauzio Varella produziu uma fonte de ricas informações para que possamos avaliar, de acordo com as nossas percepções e a do mundo jurídico, a forma como o Estado julga fazer justiça.
Abraços,
Uyran Ribeiro
As férias chegaram e junto com elas, as Atividades Complementares.
Por conseguinte, o Endireitando fará nessas férias de Julho, os 05 motivos para que você leia determinada obra.
O livro escolhido da publicação de hoje é a obra de Draúzio Varella, Estação Carandiru.
Descrição do livro: "Dentro de suas paredes grossas, a posse de um maço de cigarros pode significar a diferença entre permanecer vivo ou morrer. Com uma população de mais de 7.200 presos e a dez minutos do centro da cidade, a Casa de Detenção de São Paulo, ou simplesmente o presídio do Carandirú, constitui um universo singular e quase desconhecido. Seus habitantes obedecem às normas de conduta da instituição e submetem-se, queiram ou não, a um rígido e implacável código penal próprio. Lá, homens como Mário Cachorro, Sem-Chance, Jeremias, seu Luís e Filósofo passam o dia soltos e são trancados nas celas à noite. Estação Carandirú é o relato de dez anos de convivência do médico Dráuzio Varella com os ocupantes da Casa de detenção. Médico cancerologista, iniciou um trabalho voluntário de prevenção à AIDS no Presídio em 1989."
Abaixo, os motivos do porquê você deve ler este livro. Vejamos:
Motivo #1 - Leitura viciante.
Quem lê Estação Carandiru não quer mais parar. Draúzio Varella narra de formas variadas os acontecidos na Casa de Detenção. Durante todo o livro, ele inclui falas dos detentos, sem qualquer preocupação com a correção do texto, pois logicamente, percebe-se que seu intuito é inserir o leitor na pele de um presidiário.
Por sua vez, o livro traz um tema controverso para uns e unanimidade para outros, sendo motivo de revolta ou de compaixão humanitária respectivamente. O autor, sendo um renomado médico oncologista com participações na mídia e afins, conta sua participação no Carandiru pela sua profissão e também as dificuldades que isso traz.
Além disso, o livro traz uma série de curiosidades sobre o mundo do crime e seu Código Penal, com regras por vezes jocosas, mas também rigorosas, cujo um simples olhar diretamente no olho de algum ladrão, torna-se um motivo para um homicídio.
Motivo #2 - Realidade Prisional.
A lei que regula os direitos e deveres dos presos é a Lei 7.210 de 1984 ou como ela é chamada, a Lei de Execução Penal (LEP).
O livro retrata uma realidade pífia. Dentro do Carandiru, os carcereiros não usavam nenhuma arma de fogo no presídio. Sua atuação estava restritiva com um cassetete e que por vezes, os ladrões os rendiam em alguma emboscada criados por eles mesmos, e exigiam algo em troca, como por exemplo, a transferência de unidade prisional ou a reivindicação de melhorias dentro do presídio.
Varella conta que os ladrões convivem com 20 presos ou mais em uma cela de 5m². Os novatos dormem ao lado da privada, chamado de "bico", muito diferente do que estamos acostumados em nossas casas. O chuveiro deles é um cano que quando ligada, solta um fio fino de água, quente ou frio, para o banho dos detentos.
Para dormir, dependendo da quantidade de presos por cela, alguns ficam em pé enquanto outros dormem, e assim se revezam em seu canto, sem encostar ou incomodar o outro, porque como disse um dos presos no livro, "Sono de malandro é sagrado, doutor".
Motivo #3 - Curiosidades.
Confesso que ao ler o livro, me deparei com certas curiosidades no meio prisional. Além do que foi mencionado no último parágrafo do Motivo #2, os presos tem regras de condutas jocosas mas também rigorosas.
Um novato na prisão, caso não conheça alguém da cela com que teve amizade quando tinha sua liberdade, ou não tenha dinheiro para arcar com a taxa de moradia da cela, imposta para ter o direito de morar ali, não recebe acolhimento dos detentos. Muitos aceitam ser laranjas (termo usado para quem faz algo para o ladrão, da qual ele não gostaria/queria fazer) em troca de moradia.
A moeda principal da prisão não é o dinheiro e sim o maço de cigarro. Pasmem! Na prisão existe o chamado lei da oferta e procura. Caso tenha muitos itens de determinada coisa lá dentro, o preço daquilo será baixo. Em contramão, quanto menor a quantidade, mais caro aquele item ficará.
Como é de se imaginar, o que mais procuram são drogas como crack e cocaína, injetáveis com a mesma agulha ou uma engenhoca que eles constroem semelhante a uma, além de facas, cigarros, remédios e outros.
Não levando em consideração os crimes cometidos, a tatuagem frequente nos detentos são imagens da Nossa Senhora da Aparecida, ícone da Igreja Católica em reverência a Maria, mãe de Jesus Nazareno. Uma faca empunhada numa caveira também é uma tatuagem frequente entre eles, referindo-se serem matadores de policiais.
Estupradores, justiceiros e os ameaçados de morte são separados dos demais detentos, tendo em vista a chacina que isso resultaria se estivessem juntos. Ladrão abomina estuprador, isso é unanimidade.
Enfim, o livro está repleto de coisas novas e teria que reescreve-lo para contar as inúmeras informações constritas.
Motivo #4 - A adversidade da proliferação de doenças dentro dos presídios.
Draúzio Varella retrata a adversidade da proliferação de doenças dentro dos presídios mostrando o quanto os detentos sofrem com isso.
Sarna, infecções, HIV, tuberculose, leptospirose e principalmente o vírus da AIDS, são comuns por lá.
Este último, presume-se que 70-80% dos detentos eram portadores. Isso acontecia pelo uso de agulhas conjuntas para o uso de drogas, sexo com um portador e a exposição contínua aos fatores que levam a contaminação.
Na Casa de Detenção, se não morria por outro preso, morria pela doença avançada.
Os travestis dentro do presídios eram os grandes portadores das doenças. Trocavam sexo por comida ou até mesmo por um maço de cigarro, moeda principal da cadeia. Assim, facilmente se contaminavam com diversas doenças.
Motivo #5 - Ressocialização do preso.
Sinceramente, o livro faz-nos acreditar que não existe a ressocialização do preso. Não que seja tendencioso, mas que ao analisarmos o que ocorre lá dentro e a essência da servidão de um presídio a um infrator, verificamos que estamos longe de um sistema prisional que prioriza a inserção de um ex-preso fora do mundo criminoso.
Pelo contrário, grande parte dos detentos, ao atingirem sua liberdade, voltam a cometer os mesmos crimes ou até piores. Durante o cumprimento da pena, o detento por vezes, sendo um motivo fútil ou torpe, comete homicídio contra outro detento a fim de "acertar as contas". Veja um exemplo do livro: X esbarra em Y. Y não gosta disso. Assim, Y mata X.
Independe se X é forte, magro, grande ou pequeno, dentro da cadeia isso não significa nada.
Para estuprador, a crueldade atinge um pico de ódio enorme. Basicamente, o estupram, dão choques elétricos intensificado com o corpo molhado da vítima, o fazem ingerir excrementos a cada 30 minutos durante o dia, queimam as suas línguas, cometem lesões corporais das mais variadas e por fim, conforme relatado no livro, após todos esses atos, o matam com cerca de 70 facadas, dependendo de quantos presidiários estiverem na fila. O prazer está em dar a facada e humilhar o estuprador, mesmo que ele já esteja sem vida.
Assim, difícil se faz acreditar na ressocialização do preso devido a tudo que passam e vivenciam dentro das Casas de Detenções. Há exceções, é claro. Mas mesmo fazendo parte destas exceções, esbarram no preconceito da sociedade, seja no profissional ou no pessoal quando obtêm sua liberdade.
Assim, indico a leitura deste livro!
Drauzio Varella produziu uma fonte de ricas informações para que possamos avaliar, de acordo com as nossas percepções e a do mundo jurídico, a forma como o Estado julga fazer justiça.
Abraços,
Uyran Ribeiro
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